domingo, 2 de abril de 2017

Interações Fármaco x Fármaco

Interações Fármaco x Fármaco
FARMACIA INTRODUÇÃO

Atualmente existe uma disponibilidade muito grande de fármacos, que podem ter excelente eficácia quando prescritos isoladamente ou, se necessário são administrados em regime de polifarmácia, seja pela condição patológica do paciente, pela necessidade de complementação do efeito ou ação, de modo que garanta a eficácia terapêutica. A prática de administrar dois ou mais medicamentos é extremamente comum, seja sequencialmente ou simultaneamente administrados (FUCHS et al, 2006).


Contudo, é necessário lembrar a natureza química dos fármacos e que podem ocorrer diversos efeitos entre estes e outras substâncias químicas presentes no ambiente, como solventes, alimentos e outros fármacos. A esses efeitos dá-se a denominação de interação, que pode ser qualitativa (em que a resposta farmacológica é completamente diferente dos efeitos habituais) ou quantitativa (podendo ocasionar o aumento [sinergia], a diminuição [antagonismo parcial] ou até mesmo a cessação [antagonismo total ou antidotismo] do efeito do fármaco). Com isso pode se ter uma série de consequências clínicas indesejáveis, como efeitos adversos e ineficiência da farmacoterapia, comprometendo desse modo a saúde do paciente.


O conhecimento dessas interações é de suma importância para todos os profissionais envolvidos com a prescrição, dispensação e administração de medicamentos, pois assim, tornam a farmacoterapia mais eficaz e segura aos pacientes. No presente trabalho dar-se-á um enfoque na interação entre fármacos e fármacos, devido à grande incidência de polifarmácia nas terapias prescritas e pela potencial periculosidade que estas interações podem ocasionar no indivíduo.


FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Pode se definir interação farmacológica basicamente como sendo aquela na qual um fármaco interfere com os outros alterando o efeito esperado (FUCHS et al, 2006). Essas interferências podem ser qualitativas, no qual a resposta farmacológica vai ser diferente do esperado, ou quantitativas, que vai ter relação diretamente com o efeito do mesmo, aumentando, diminuído ou cessando completamente (FUCHS et al, 2006).


Esse tipo de interação de uma maneira geral, tem incidência pequena, levando-se em conta a alta prevalência de polifarmácia. No entanto, esse risco aumenta com fármacos como anticoagulantes, digitálicos, hipoglicemiantes, lítio, antineoplásicos e agentes nefrotóxicos, sendo que essas interações podem ser letais (FUCHS et al, 2006). Outros fármacos, comprometem a farmacoterapia por diminuírem o efeito de outros, como os corticosteroides (dexametasona e betametasona), anticonvulsivantes (barbitúricos e carbamazepina), contraceptivos orais, alguns antibióticos, cimetidina e teofilina (FUCHS et al, 2006).


As pessoas mais propensas para interações são os idosos (por já estarem com os sistemas orgânicos mais debilitados, especialmente o hepático, além de serem os maiores usuários de polifarmácia), pacientes com insuficiência renal, insuficiência hepática, insuficiência cardíaca, insuficiência respiratória, hipertireoidismo, epilepsia grave, asma aguda e diabetes descompensado (FUCHS et al, 2006). Existem interações que são negadas pelos pacientes, na medida em que omitem o uso de outras substâncias como o álcool e o fumo; essas interações são potencialmente muito nocivas, especialmente com o uso de álcool, mesmo utilizado moderadamente (FUCHS et al, 2006).


As interações descritas atualmente são aquelas observadas em estudos com cobaias, in vitro e em relatos de casos; muitas interações são ainda desconhecidas, principalmente aquelas que se referem a novos medicamentos lançados no mercado, sendo que boa parte dessas observações de interações se dá logo após a comercialização e em ambulatórios, onde infelizmente a pratica de farmacovigilância é muito pouco difundida, o que é explicado pela quase nula incidência de interações notificadas por esses estabelecimentos de saúde. Isso leva a ter um maior cuidado na prescrição de novos medicamentos por parte dos médicos e também exige uma maior atenção dos profissionais que trabalham em ambulatórios, para que eles investiguem mais ou pelo menos notifiquem casos suspeitos (FUCHS et al, 2006).


As interações medicamentosas podem ser classificadas pelo seu mecanismo de instalação: interações farmacêuticas, interações farmacocinéticas, interações farmacodinâmicas e de efeitos. Cada uma será brevemente descrita.

 Interações Farmacêuticas

Interações farmacêuticas, também chamadas de incompatibilidade medicamentosa ocorrem in vitro, ou seja, antes da administração de fármacos no organismo, quando se misturam dois ou mais deles em uma seringa ou outro recipiente. Ocorrem por reações físico-químicas que resultam em:

• Alterações organolépticas: evidenciadas como mudanças de cor, consistência (sólidos), opalescência, turvação, formação de cristais, floculação, precipitação, associadas ou não a mudança de atividade farmacológica;
• Diminuição da atividade de um ou mais fármacos originais;
• Formação de um novo composto (ativo, inócuo, tóxico);
• Aumento da toxicidade de um ou mais fármacos originais.
A ausência de alterações macroscópicas não garante a inexistência de interação medicamentosa.


 Interações Farmacocinéticas

São aquelas que ocorrem durante os processos de absorção, distribuição, biotransformação e excreção.


A absorção pode ser aumentada ou diminuída, acelerada ou retardada, dependendo de fatores relativos a fármaco e sistema de veiculação (tamanho de molécula, excipiente, pKa, etc.) ou relacionados ao organismo (pH do sítio intestinal, espessura e vascularização de membrana, atividade de metabólica de microbiota intestinal, trânsito intestinal, etc). Também pode haver a formação de complexos insolúveis e não-absorvíveis e competição pelos mecanismos de transporte intestinal. Além disso, é preciso considerar nos medicamentos administrados pela via oral a interação entre estes e os alimentos no estômago, de forma inespecífica. O uso concomitante de antibióticos de amplo espectro, como ampicilina e doxiciclina, e contraceptivos orais pode interferir na absorção destes, por alteração de microbiota intestinal, resultando em gestações indesejadas.


A distribuição de um fármaco pode ser afetada pela alteração do fluxo sanguíneo e pela capacidade de ligação à proteínas plasmáticas ou teciduais. Se dois fármacos competem pelo mesmo sítio de ligação nas proteínas, o de menor afinidade é deslocado, aumentando a fração livre no plasma. Isso pode fazer com que o fármaco exerça de forma mais intensa e rápida suas ações nos tecidos suscetíveis, mas também deixará o organismo mais exposto a efeitos a diversos e a intoxicações.


Enzimas hepáticas que realizam a biotransformação podem sofrer indução ou inibição por um fármaco. Os exemplos clássicos de indutores enzimáticos são fenobarbital, fenitoína, carbamazepina e rifampicina. Em situações de polifarmácia, os efeitos desses mecanismo de indução/inibição pode agravar o processo de doença, obrigando o prescritor a conhecer em detalhes os processos enzimáticos envolvidos e os substratos a serem evitados.


Interações podem acelerar ou retardar a excreção, mediante alterações de pH urinário, fluxo plasmático renal e capacidade funcional do rim. É comum a competição entre fármacos pelo mecanismo de transporte tubular renal, como por exemplo, probenecida e penicilinas.



Interações Farmacodinâmicas

Estas interações ocorrem nos sítios de ação dos fármacos, envolvendo os mecanismos pelos quais os efeitos desejáveis se processam. A resultante desse efeito consiste na ação dos fármacos envolvidos no mesmo receptor ou enzima, podendo aumentar o efeito agonista por estimular a receptividade de seu receptor celular ou inibir enzimas que o inativam no local de ação. A diminuição pode ser por competição do mesmo receptor, tendo o antagonista puro maior afinidade e nenhuma atividade intrínseca, ou seja, não faz ação alguma.


 Interações de Efeito

As interações de efeito ocorrem quando os fármacos associados, por meio de mecanismos diversos, exercem efeitos similares ou opostos sobre uma mesma função do organismo, sem interagir diretamente um sobre o outro. São exemplos clássicos o uso de ácido acetilsalicílico e anticoagulantes orais para evitar a formação de trombos e, o uso de brometo de ipratróprio e bromidrato de fenoterol para a desobstrução das vias aéreas por nebulização.



 REFERÊNCIA
1. FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L.; FERREIRA, M. B. C. Farmacologia Clínica – Fundamentos da Terapêutica Racional. 3ª Edição. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2006, pgs. 67 – 72.
Itagiane Borges da Cunha

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